A vida moderna é um turbilhão de obrigações. Constantemente
temos de estabelecer e cumprir metas, prazos. Contas, relacionamentos, salário,
projetos sobre o futuro; rotina pesada, trabalhar, estudar, cuidar das
finanças, de casa, dos filhos. Muitas vezes falhamos. Muitas vezes as coisas
simplesmente parecem teimar em não acontecer do jeito que queremos, ou
precisamos. Nesses momentos, não importa o quão conscientes estejamos, muitos
sentimentos podem aflorar: raiva, tristeza, medo. Diversos pensamentos também
podem emergir: ideias de condenação ao fracasso, incompetência, falta de dom ou
talento, falta de sorte, perseguição, etc. Comportamentos também ganham
terreno: fuga das coisas ruins, esquiva, procrastinação, atrasos, faltas em
compromissos, desistência de empregos e estudos, brigas; dormir demais, comer
demais, beber demais, se drogar. Para lidar com isso temos uma quantidade
enorme de informações mentalistas que nada esclarecem e conforme as crises se
agravam, vamos, cada vez mais, nos sentindo esmagados e sem saída. Com isso,
muitas pessoas não aprendem a identificar a relação entre as situações e seus
sentimentos e, mais importante, a relação entre seus comportamentos e as
consequências que se seguem.
O ser humano vem trabalhando há milênios em prol do
conforto. Atualmente, dispomos de televisões 3D, carros automáticos, aviões,
internet de banda larga, redes sociais e aparelho de telefonia móvel que nos
deixam 24 horas conectados com o mundo. O conforto aumentou, mas a resistência
à frustração diminuiu. Para que fazer comida, “perdendo” horas no fogão,
ficando irritado, se posso comer numa super rede de “fast food”? Para que
malhar horas numa academia, sentindo dor no corpo todo, se posso fazer uma
cirurgia plástica? Para que jogar bola com meu filho se posso deixá-lo se
“acabar” no videogame, enquanto tomo uma cerveja?
As pessoas estão suportando cada vez menos o sofrimento e as
emoções negativas. E o pior de tudo é que a solução preferida para lidar com
isso tem sido a fuga. A dor e os acontecimentos negativos são parte da vida. A
dor não para de acontecer. Então tomamos mais remédios contra depressão,
pânico, ansiedade, pois não podemos parar, não dá tempo para olhar para a dor e
encará-la. Queremos uma solução rápida. Tenho uma informação triste para dar:
procrastinar não fará o problema ir embora; desistir não fará ninguém lhe dar
aquilo que você precisa construir com esforço. Nada disso vai fazer seu chefe
ser mais compreensivo, nem fazer seu marido deixar de ser tão teimoso. Isso não
fará sua mulher ser mais carinhosa. Nem fará seu filho finalmente estudar. E
remédios vão atuar sobre os seus sintomas, nunca sobre sua vida “externa”.
Agora tenho uma informação pior para lhe dar: quanto mais você foge do
sofrimento abandonando as coisas importantes que faz ou precisa fazer, pior
ficará.
Aprendemos a dirigir, a cozinhar, a construir edifícios, mas
não aprendemos como lidar com emoções negativas, certo? Ninguém nos ensina o
que fazer com aquela tristeza esmagadora, certo? Errado. Você pode treinar para
uma apresentação na empresa, estudar oratória, mas não pode treinar para não
deixar o sofrimento te derrubar, certo? Errado.
A atividade física é uma das coisas que serve muito bem para
nos ensinar a lidar com emoções negativas.
Vamos analisar um caso simples.
Pense numa pessoa que planeja há meses fazer caminhadas no fim da tarde, mas
nunca vai. Em determinado dia, ela finalmente irrompe em motivação, porém,
acaba desistindo de novo. Então, ela se vê de perfil no espelho e se sente um
fracasso, feia, gorda, inadequada, sem coragem. Frustrada, essa pessoa abre a
geladeira, senta na frente da televisão e faz o que? Alivia, ou aumenta seu
sofrimento? Aumenta. Quando fugimos das coisas negativas, privamo-nos de
receber coisas positivas que advém do seu enfrentamento. Um exemplo nesse mesmo
caso: a pessoa engorda mais (negativo) e deixa de emagrecer e se sentir melhor
(auto-privação do positivo). Simples!
Então, como treinar nossa resistência à frustração através
da atividade física? Enfrentando as coisas ruins e produzindo coisas boas em
nossas vidas. Ou melhor, enfrentando as coisas ruins e se dando a chance de
receber coisas boas advindas desse enfrentamento. Resolva seus problemas, não
deixe que eles se acumulem sobre a mesa.
Dicas para enfrentar o negativo através do exercício:
1) inicie uma atividade física;
2) quando quiser desistir, resista e vá;
3) quando pensar que não vai suportar a carga de treino
deixe o pensamento de lado e faça;
4) não ande para trás, mantenha o foco;
5) quando achar que os resultados dos exercícios não
aparecem, converse com seu professor, pergunte às pessoas na academia,
persista;
6) quando estiver pensando em abandonar o treino, peça ajuda
ao seu professor, as palavras dele podem lhe dar incentivo, fique firme;
7) aos poucos, aumente o ritmo, aumente o desafio. Não
esperava dicas tão óbvias, não é?
E sabe o que é melhor? Você receberá o prêmio logo após o
esforço: depois de uma hora de caminhada, dirá a você mesmo “hoje eu
consegui!”; quando terminar a última repetição, pensará “eu suportei!”; quando
olhar no espelho, dirá “olha, já emagreci sim!”; quando seu professor falar
“vai lá campeão”, você sentirá que ganhou um amigo. A atividade física é uma
das poucas coisas que pode te dar esse prêmio tão rápido por enfrentar sua frustração.
Por exemplo, um garoto com dificuldade de arrumar namorada pode tentar, com
todos os recursos, falar com uma garota e tomar um fora, pois a conquista não
depende só dele. No entanto, se você se acha um fracasso por não ir caminhar,
mudará de ideia uma hora depois de tomar uma atitude e ir; se você acha a
academia uma chatice, mudará de ideia logo que perceber o quanto o exercício
produz prazer físico e psicológico. Só depende de você, entende? Anos de
academia para ficar malhado te desanima? Então estabeleça metas menores, pense
no aqui-e-agora: “hoje eu vou…hoje eu fui…”. Todo dia é um novo “hoje” para
você vencer e se sentir bem por ter feito aquilo que se propôs a fazer.
Uma boa parte das pessoas não consegue lidar com emoções
negativas porque tudo que recebe do mundo são regras verbais: “não fique
triste”, “isso vai passar”, “tem gente pior que você”, “não demonstre
fraqueza”, etc. Essas frases confortam, mas não dão muitas dicas sobre como
alterar situações problemáticas. O mundo emocional é enfrentado muito na base
das ideias e teorias. A atividade física, ao contrário, te leva e ensina a
agir. Aprendemos a nadar numa piscina, não em um sofá; aumentamos nossa
resistência física treinando, não imaginando; ganhamos massa muscular com
esforço, não com pensamentos.
O esporte é uma atividade de superação, é iniciar
pequeno e aos poucos, progredir e vencer.Medo da piscina, vergonha por não ter resistência, sentimentos de fracasso por achar que não está musculoso o suficiente, isso tudo é trabalhado no treino. No exercício físico o obstáculo e a dor são partes importantes da vitória. Vencer é não parar diante dessas coisas, é seguir evoluindo. O esporte te ensina a aceitar a vida como ela é e te ensina a lutar.
Além disso, todo esse enfrentamento durante a atividade
física nos ajuda a não fugir do chefe chato, da dor de um rompimento amoroso,
da birra do filho, pois treinamos nossa resistência à frustração, aumentamos
nossa tolerância à dor malhando o corpo e se condicionando a vencer. Ganhamos
força para encontrar soluções. É possível ampliar esse aprendizado para toda a
vida. Vencemos uma piscina durante uma hora e não podemos vencer uma pilha de
papel? Claro que podemos! Na verdade, fazemos isso até sem perceber quando
nosso hábito se torna lutar e não fugir. Emoções e pensamentos negativos,
frustração e vontade de desistir são apenas parte da vida, não a totalidade do
nosso Ser. Quem escuta tanto a própria dor, também pode aprender a escutar a
própria alegria. Foque no positivo. Veja que pode fazer no mundo tudo aquilo
que faz na academia: superar a dor, vencer obstáculos, atingir objetivos
positivos e se sentir um grande campeão no fim do dia. Deixe o esporte te
mostrar a força que você tem.
Por fim, não deixe de produzir coisas boas em sua vida.
Muitas pessoas são especialistas nisso: sabem que precisam de um psicólogo, mas
nunca vão; reconhecem que necessitam de um cineminha, porém não se permitem;
querem namorar, mas nunca encaram sua timidez. Querem ser felizes, contudo,
adiam a sua felicidade o tempo todo. Não é incrível isso? Nós, seres humanos,
não podemos excluir a dor de nossas vidas através de paliativos. Podemos
enfrentá-las e aprender com elas, mas também precisamos de coisas positivas em
nossa existência. Não espere que elas aconteçam, vá buscar. De preferência, vai
a pé para poder se exercitar. Bons
treinos!!!!!!!
“Então você não pode ganhar sempre, mas nunca tenha medo de
tomar decisões. Você não pode ficar paralisado pelo medo do fracasso ou você
nunca vai avançar. Você continua avançando porque acredita em si mesmo e em sua
visão e sabe que é a coisa certa a fazer e o sucesso virá. Portanto, não tenha
medo de falhar” ARNOLD SCHWARZENEGGER.
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